29 de abril de 2015

hCG e emagrecimento – mito ou verdade

Que vivemos em uma epidemia de excesso de peso e obesidade, não há dúvidas. A crescente consciência de que os quilos a mais não trazem somente prejuízo estético, mas também problemas de saúde como diabetes mellitus tipo 2, pressão alta, colesterol alto, risco aumentado de morte por doenças cardiovasculares e câncer, tem feito com que se procure alternativas para o tratamento. Um método que vem ganhando espaço na mídia é o uso da gonadotrofina coriônica humana ou hCG. Mas será um tratamento válido? Vejamos o que nos dizem as evidências científicas...


Ao contrário do que se imagina, a controvérsia sobre o uso do hCG para o emagrecimento já tem 60 anos. Em 1954, o Dr. Simeons publicou na revista Lancet o artigo intitulado “The action of chorionic gonadotrophin in the obese”. Neste estudo, o hCG era usado em conjunto com uma dieta altamente restritiva, de apenas 500 calorias por dia, com o objetivo de se fazer perder peso sem fome e mantendo a massa muscular. Contudo, estudos melhor desenhados realizados a partir da década de 1970 não mostraram esse efeito benéfico do hCG. No ano de 1995, o Dr. Lijensen publicou na revista British Journal of Clinical Pharmacology uma extensa revisão de todos os estudos científicos realizados com hCG para o emagrecimento até o momento. O artigo “The effect of human chorionic gonadotropin (HCG) in the treatment of obesity by means of the Simeons therapy: a criteria-based meta-analysis” avaliou 16 estudos e concluiu que não existe qualquer evidência de que o hCG seja efetivo no tratamento da obesidade. Além de não auxiliar na perda do peso, o hCG não é melhor que o placebo em manter a massa magra, reduzir a fome ou manter o bem estar. Em outras palavras, este estudo diz que usar hCG ou injeções de água dá na mesma, ou seja, é um tratamento sem efeito.
Como se isso já não bastasse, começaram a aparecer relatos na literatura associando o uso do hCG para emagrecimento com efeitos adversos graves como trombose. Um dos artigos mais recentes sobre o assunto foi publicado no ano de 2013 pelo Dr. Goodbar na revista Annals of Pharmacotherapy: "Effect of the human chorionic gonadotropin diet on patient outcomes".
Mas se o hCG não funciona e pode fazer tão mal, por que alguns médicos defendem seu uso e o prescrevem? Chegamos aqui a um ponto extremamente delicado...
Segundo os artigos 14, 112, 113 e 115 do Código de Ética Médica é vetado ao médico: praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela legislação vigente no País; divulgar informação sobre assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico; divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente; anunciar títulos científicos que não possa comprovar e especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e registrado no Conselho Regional de Medicina. Um profissional que esteja disposto a ser tão anti-ético só pode ter um conflito de interesse muito grande com a prescrição do hCG, isto é, está ganhando muito dinheiro com isso.
Não existe milagre no tratamento do excesso de peso e da obesidade. Existe trabalho sério! Medidas como modificação da dieta baseada em protocolos calóricos e nutricionais seguros; programas de exercício adaptados as capacidades e limitações de cada paciente; e aconselhamento comportamental, incluindo desenvolvimento de hábitos alimentares adequados, como lidar com o estresse e ansiedade, e como adaptar a dieta e o estilo de vida dentro do contexto familiar; geralmente demandam trabalho de equipe multidisciplinar responsável e competente.
Modismos e aproveitadores existem e sempre existirão. Quando você for ler qualquer texto na internet ou em revistas, ou mesmo quando for assistir alguma entrevista na TV, sempre procure conhecer as fontes. Certifique-se de que sejam pessoas sensatas e atualizadas, se são ligadas a centros acadêmicos ou a produção científica. Vá atrás das referências citadas e consulte as sociedades médicas e agências de vigilância sanitária. Cuide-se!
Fonte: http://www.drmateusendocrino.com/excesso-de-peso-e-obesidade/119-hcg-e-emagrecimento-mito-ou-verdade.html

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

28 de abril de 2015

Obesidade e preconceito

Na época atual, onde o progresso da ciência é imenso e o alcance e a rapidez de novas informações não têm precedentes na história, ainda temos concepções cristalizadas sobre muitos temas. Um deles é a  obesidade, que ainda é vista como “consequência de relaxamento” ou “falta de força de vontade” pela maioria das pessoas, inclusive por profissionais da saúde e pelos próprios portadores do problema. Eles frequentemente sentem-se culpados pelos insucessos do tratamento e desmoralizados por não conseguir resolver algo que “só depende deles”.


A obesidade é uma doença crônica, consequência da interação entre os genes e o ambiente, e está implicada no surgimento do diabetes, das doenças cardíacas e em alguns tipos de câncer. Pessoas obesas têm mais chance de morrer precocemente. Infelizmente, alguns fatores tornam o seu tratamento mais difícil. O aumento de peso ocorre com pouca oposição do nosso metabolismo, e esta resposta é menor ainda em pessoas mais propensas à obesidade - aí entra o fator genético. Enquanto isso, a redução de peso leva a uma grande resposta biológica que facilita o reganho de peso, por meio de mecanismos que aumentam a fome e reduzem o gasto de energia. Isto define a doença como recidivante, ou seja, ela tende a voltar.
Além disto, todos nós temos tendência a aumentar o peso no decorrer da vida. Para as pessoas obesas, isto tem uma repercussão ainda maior. Por isso, dizemos que a obesidade tem caráter progressivo.
Como nos mostrou a escritora Jane Austen, em seu clássico “Orgulho e Preconceito”, no início do século 19, a mudança de conceitos pode levar tempo para ocorrer, mesmo quando existem evidências de que eles estão equivocados. Obesidade é doença com graves implicações e deve ser tratada com todos os recursos da medicina atual, desde que devidamente comprovados cientificamente. Ideias errôneas, tanto por parte dos pacientes, quanto por parte dos profissionais de saúde, reduzem a chance de sucesso do tratamento. Precisamos superar o nosso "orgulho e preconceito" em relação à obesidade e conferir a devida importância  ao seu tratamento.

Mais detalhes em:  Biology's response to dieting: the impetus for weight regain. MacLean P, Bergouignan A, Cornier M , JackmanM. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol. 2011 Sep; 301(3): R581–R600.

Dra. Simone Peccin
Médica Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia (UFRGS)
CREMERS 18941
Consultório em Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3346 2441

26 de abril de 2015

Prevenção de sintomas musculares causados por estatinas

As estatinas (sinvastatina, pravastatina, atorvastatina, rosuvastatina, pitavastatina) são os principais medicamentos utilizados para tratamento do colesterol elevado. Os representantes desta classe são utilizados na prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares como infartos e isquemias. Contudo, como em qualquer medicamento, efeitos adversos podem acontecer. Fraqueza e dores musculares são reportados por 1 em cada 1000 usuários de estatinas. Para evitar este tipo de incômodo, o médico deve estar atendo para alguns detalhes...

Doenças preexistentes

Pacientes com doenças neuromusculares, hipotireoidismo, insuficiência renal aguda ou crônica e doenças biliares são mais propensos a apresentarem sintomas musculares, logo, o uso de estatinas pode ser feito, com cuidado, preferencialmente após a compensação da doença de base.


Medicamentos em uso

Medicamentos que inibem a metabolização das estatinas pelos citocromo P4503A4 têm o potencial de aumentar os efeitos adversos musculares das estatinas. São eles: alguns medicamentos usados no tratamento da AIDS e hepatites virais (atazanavir, ritonavir), antifúngicos (cetoconazol, voriconazol), antibióticos (claritromicina, cloranfenicol). Além destes, os fibratos, corticoides e a ciclosporina também aumentam a toxicidade muscular das estatinas.

Escolha da estatina

As estatinas hidrofílicas (pravastatina e rosuvastatina) aparentemente são menos tóxicas ao tecido muscular que as lipofílicas (sinvastatina e atorvastatina). Logo, além do contexto clínico do paciente, o médico deve avaliar o perfil de efeitos adversos e os custos do tratamento, já que a potência e o preço das diferentes estatinas varia.

Atividades físicas

Pessoas que fazem uso de estatina não precisam nem devem deixar de fazer atividades físicas. Entretanto, o programa de atividades deve ser progressivo, já que exercícios vigorosos em pessoas sem condicionamento apropriado podem desencadear lesões musculares.

Observando estes cuidados e mantendo seu médico informado de possíveis sintomas, o tratamento será eficaz e principalmente bem tolerado.

Fonte: UpToDate OnLine

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

20 de abril de 2015

Vacinação pneumocócica no paciente diabético

As infecções pneumocócicas, incluindo pneumonia, bacteremia e meningite, são importantes causas de adoecimento e de morte em crianças com menos de 1 ano de idade, idosos e em indivíduos com doenças crônicas como diabetes mellitus. Além disso, outras doenças comumente presentes nos pacientes diabéticos também aumentam o risco de infecções graves pelo pneumococo, como doenças cardíacas e a insuficiência renal crônica. Logo, a vacinação contra o Streptococcus pneumoniae é uma importante estratégia no cuidado preventivo dos pacientes diabéticos, sendo tão importante quanto o cuidado com os pés, por exemplo. A seguir, as principais vacinas, suas indicações, calendário e eficácia.

O pneumococo possui uma espécie de barreira protetora, chamada de cápsula, que dificulta o ataque de nossas células de defesa no momento da infecção. As vacinas estimulam a produção de anticorpos contra a cápsula do pneumococo facilitando o trabalho do nosso sistema imunológico. Existem mais de 90 diferentes sorotipos de cápsulas, e as vacinas visam os mais frequentes. Atualmente, dois tipos de vacinas estão disponíveis.
A vacina pneumocócica polissacarídica 23 valente é recomendada para todo paciente diabético dos 19 aos 64 anos. Já nos pacientes com 65 anos ou mais, além da vacina 23 valente, a vacina pneumocócica conjugada 13 valente também está indicada. No caso dos pacientes com menos de 65 anos de idade, apenas casos específicos, como os imunocomprometidos, recebem a vacina 13 valente. Neste grupo de pacientes com problemas na imunidade, podemos incluir os renais crônicos e os nefróticos.
O calendário vacinal para as vacinas pneumocócicas no paciente diabético é o seguinte:
- pacientes com menos de 65 anos: vacina pneumocócica 23 valente. Reforço após 5 anos.
- pacientes com 65 anos ou mais já vacinados com a 23 valente: vacina 13 valente 12 meses após 23 valente.
- paciente com 65 anos ou mais ainda não vacinados: vacina 13 valente primeiro. Após 6-12 meses, vacina 23 valente.
Diferentes estudos mostram que a vacinação, especialmente em indivíduos imunocomprometidos e em idosos, é capaz de reduzir pneumonias e infecções pneumocócicas invasivas, mas não mortalidade, podendo ser uma estratégia com boa custo efetividade quando devidamente indicada. Apesar de existirem recomendações específicas para os pacientes diabéticos como vimos acima, ainda faltam dados relacionados à eficácia e segurança neste grupo em particular.
Fonte: UpToDate OnLine

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

18 de abril de 2015

Medicamentos e produtos naturais para obesidade

A obesidade é um problema de saúde pública. Os prejuízos que traz para a saúde são bem conhecidos, entretanto, o seu tratamento ainda é um dos principais desafios da medicina atual. Ela é reconhecida como uma doença crônica de caráter recidivante, ou seja, existe uma grande tendência das pessoas obesas que emagreceram voltarem a ganhar peso. Isto decorre da resposta fisiológica do corpo à redução da gordura, que dificulta a manutenção do peso em um patamar mais baixo.    
Atualmente, para conseguir bons resultados, precisamos de um grande empenho para mudança de hábitos de vida, além do uso eventual de medicamentos, que, quando bem utilizados, podem amplificar a redução e manutenção do peso.



Um dos mais frequentes questionamentos dos pacientes é a respeito de produtos comercializados sem receita médica, que prometem sucesso no emagrecimento. Anúncios em revistas e mesmo reportagens em meios de comunicação falam de alimentos naturais, funcionais e fitoterápicos como excelentes agentes emagrecedores. Entretanto, existem diferenças fundamentais entre estes produtos e os medicamentos.
Antes de um medicamento ser lançado no mercado, ele tem o seu princípio ativo cuidadosamente estudado em testes de laboratório por vários anos. Depois, ele passa por estudos para verificar sua segurança e, após muitos testes, sua eficácia é testada em grandes estudos comparados ao placebo. Isto é uma fundamental para avaliar se um medicamento realmente funciona, porque é comprovado que se um indivíduo ingerir alguma substância acreditando que ela tenha determinado efeito, ele poderá senti-lo, mesmo que temporariamente, - é o famoso efeito placebo. Depois de lançado no mercado, seguem-se estudando os efeitos benéficos e adversos do produto. 
"Produtos fitoterápicos ou naturais" (pholiamagra, chá branco, chá verde, guaraná em pó, óleo de palma, etc) são registrados com a comprovação de seu caráter tradicional e segurança com base na literatura médica, sem a necessidade de estudos específicos. Por outro lado, "medicamentos fitoterápicos" precisam ter pequenos estudos clínicos. Por exemplo, a cáscara sagrada pode ter sua propriedade laxativa descrita, e a garcínia cambogia, como auxiliar na redução de peso.
"Alimentos com propriedades funcionais" devem ter segurança demonstrada, e não são permitidas referências à cura ou prevenção de doenças, segundo as normas da ANVISA. Desta forma, a quitosana, por exemplo, deve ser referido como “auxiliar na redução da absorção de gordura e colesterol”, a goma guar, com a afirmação que  “as fibras alimentares auxiliam o funcionamento do intestino”, o óleo de cártamo e o óleo de coco como  “óleos vegetais” . 
Não existem soluções fáceis no tratamento da obesidade, o que torna os pacientes obesos extremamente vulneráveis a falsas promessas. Precisamos de informações corretas na mídia. Respeito à população.

Dra. Simone Peccin
Médica Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia (UFRGS)
CREMERS 18941
Consultório em Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3346 2441

14 de abril de 2015

Diabetes mellitus tipo 2: conheça, enfrente e viva bem!

O que é diabetes mellitus tipo 2?

Todas as células do nosso corpo precisam de combustível para funcionar. O principal combustível chama-se glicose, que é um tipo de açúcar. Para que a glicose consiga entrar nas nossas células, ela conta com a ajuda do hormônio chamado insulina. No diabetes mellitus tipo 2, nossas células ficam menos sensíveis e a quantidade de insulina secretada pelo pâncreas (órgão que existe dentro do nosso abdome, atrás do estômago) passa a não ser suficiente. Isso faz com que a glicose suba no sangue, causando o diabetes.
O diabetes mellitus tipo 2 é a forma mais comum de diabetes. Aproximadamente 1 de cada 10 brasileiros é diabético.



O que causa o diabetes mellitus tipo 2?

São fatores de risco para o diabetes mellitus tipo 2:
- aumento da idade;
- etnia (negros têm o risco maior que os brancos);
- história de diabetes mellitus nos familiares;
- excesso de peso, principalmente se a barriga for grande;
- falta de atividade física;
- fumo;
- alimentação inadequada, com excesso de produtos industrializados e poucos cereais integrais, frutas e verduras.

Quais são os sintomas do diabetes mellitus tipo 2?

Atenção! A grande maioria dos pacientes não sente nada! Logo, é muito importante fazer exames periódicos, principalmente se você se encaixa em algum dos grupos de risco.
Quando a glicose está muito alta no sangue, os sintomas mais comuns são:
- necessidade de urinar toda hora;
- sede excessiva;
- visão borrada.
Pode acontecer também em alguns casos: fadiga, perda de peso e até mesmo coma com necessidade de internação hospitalar.

Como se faz o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2?

O diagnóstico do diabetes mellitus tipo 2 pode ser feito através da medida da glicose no sangue (mais especificamente, no plasma), em jejum e, em alguns casos, após sobrecarga de glicose anidra (após beber uma espécie de suco muito doce) ou da hemoglobina glicada. Se eles estiverem suficientemente elevados em duas ocasiões, o diagnóstico está fechado. Em pacientes muito sintomáticos, uma medida de glicose elevada já é suficiente para o diagnóstico.

O que o diabetes mellitus tipo 2 pode fazer de ruim para a saúde?

Além de causar os sintomas já descritos, se não tratado adequadamente, o diabetes mellitus tipo 2 pode levar a complicações como:
- cegueira;
- insuficiência renal crônica e hemodiálise;
- amputações;
- doenças vasculares como infarto e isquemias;
- doença nos nervos;
- em homens, problemas na ereção.

O diabetes mellitus tipo 2 tem cura?

O diabetes mellitus tipo 2 é uma doença crônica, ou seja, não tem cura. Mas com o tratamento adequado, evitam-se as complicações e o paciente tem uma excelente qualidade de vida.

Como se trata o diabetes mellitus tipo 2?

Além da modificação do estilo de vida (corrigir alimentação, fazer atividades físicas, emagrecer, parar de fumar), pode ser necessário uso de remédios para baixar a glicose. Existe uma grande diversidade de remédios antidiabéticos em comprimidos, além da insulina, que muitas vezes é necessária, principalmente nos casos mais graves. O paciente diabético deve manter controlada sua pressão arterial, colesterol no sangue e fazer regularmente avaliação/prevenção de possíveis complicações, como por exemplo, consulta com oftalmologista anual.
Por ter o manejo complexo, é aconselhável, sempre que possível, que o diabetes mellitus tipo 2 seja acompanhado regularmente (3 a 4 vezes por ano, no mínimo) por médico endocrinologista experiente e familiarizado com seu tratamento.

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

12 de abril de 2015

Diabetes mellitus gestacional: o básico

Chamamos de diabetes gestacional o aparecimento de glicemia alterada durante a gravidez. A Sociedade Brasileira de Diabetes orienta dosar a glicemia em jejum já na primeira consulta pré-natal. Se a glicemia estiver abaixo ou igual a 85 mg/dl, deve ser reavaliada entre a vigésima quarta e a vigésima oitava semana de gestação. Os resultados acima de  85  requerem um exame adicional. Na maioria dos casos, a dieta para diabetes é suficiente para corrigir os níveis de glicose, mas há casos em que tratamento com insulina é necessário. Mas após o parto, em geral a insulina é suspensa e a glicemia deve ser monitorada.
Mas qual a importância de cuidar da glicemia na gestação? Já ouviram falar de bebês muito grandes, com 4 ou 5 kg ao nascer? Pois é justamente uma glicemia alta que faz com que o bebê cresça muito e ganhe peso até demais, com riscos no parto para mãe e bebê, desde morte fetal até glicose muito baixa no recém-nascido. 
Além disso, a presença do diabetes gestacional pode ser um indício de que a mulher terá diabetes no futuro, mesmo anos após ter tido seu filho. É importante que as mulheres reavaliem sua glicose periodicamente após o parto, caso esta esteja acima de 99 mg/dL.
As mulheres que já têm o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 (que usam insulina para viver) ou tipo 2 (que podem usar medicamentos ou evoluir para o uso da insulina) e que pretendem ter filhos têm de fazer um controle mais rigoroso da glicemia antes mesmo de engravidar, pois quanto melhor o controle na concepção e nos primeiros 3 meses, menor o risco para o bebê. 
O recado é simples: as gestantes têm de ser avaliadas quanto à glicemia na gestação e, se alterada, devem ser encaminhadas ao endocrinologista. Assim, bem assessoradas por obstetra e endocrinologista, é possível uma gestação com menor risco para que as mães possam ter o privilégio de ver o crescimento saudável de seus filhos.


Dra. Marcia Murussi
Médica Endocrinologista
Mestre e Doutora em Ciências Médicas: Endocrinologia (UFRGS)
CREMERS 19973
Consultório em Caxias do Sul/RS - Fone: (54) 3027 1585

4 de abril de 2015

O hipertiroidismo

O que é hipertiroidismo?

Hipertiroidismo é uma enfermidade que pode fazer com que você sinta ansiedade, tremores e cansaço. Isto acontece quando uma glândula situada em seu pescoço, chamada de tireoide passa a produzir muito hormônio, ou quando existe uso de doses altas demais de hormônio da tireoide ou outros medicamentos capazes de causar inflamação tireoidiana (tireoidites). Este hormônio controla, entre tantas coisas, como o corpo utiliza e armazena energia.
HIPERtireoidismo é o termo médico utilizado quando a tireoide está produzindo MUITO hormônio tireoidiano, portanto, trabalhando excessivamente. Muitas pessoas confundem o HIPERtireoidismo com o HIPOtireoidismo, que é quando a tireoide produz POUCO hormônio, insuficiente, e portanto popularmente conhecido como tireoide lenta, já discutido neste blog anteriormente.
As principais causas de hipertireoidismo são a doença de Graves (60 a 80% dos casos, 10 vezes mais comum em mulheres, principalmente com início entre 40 e 60 anos, e em tabagistas), bócio multinodular tóxico, adenoma tóxico e tireoidites. 

Localização da tireoide normal à esquerda e bócio à direita.

Quais são os sintomas e sinais de hipertireoidismo?

Algumas pessoas não apresentam sintomas ou sinais de hipertireoidismo. Quando eles ocorrem, incluem:

  • Ansiedade, nervosismo, irritabilidade, distúrbios do sono (insônia), dificuldade de concentração.
  • Fraqueza, especialmente nos braços e coxas, que pode dificultar o levantamento de objetos pesados ou subir escadas. 
  • Tremores, principalmente em mãos.
  • Suadores em demasia, pele úmida e quente, às vezes pele avermelhada ou mais escurecida e intolerância à água quente no banho e ao calor.
  • Batimentos cardíacos acelerados, mais fortes ou fora do ritmo, irregulares (fibrilação atrial), dor no peito.
  • Sentir-se cansado, ter alterações de comportamento como confusão mental, esquecimento de fatos recentes, psicose, alucinações ou depressão, choro fácil (labilidade emocional).
  • Perda de peso mesmo com aumento de apetite ou comendo normalmente, sendo que em pessoas mais idosas pode haver perda de apetite e em alguns jovens podem ter aumento de peso por um aumento da fome desproporcional ao aumento do metabolismo.
  • Aumento do peristaltismo intestinal, evacuações mais frequentes, com ou sem diarreia, malabsorção dos alimentos.
  • Descolamento das unhas do leito ungueal (onicólise) e unhas amolecidas
  • Coceira na pele ou urticária. 
  • Vitiligo e falhas no cabelo (alopecia areata) ou cabelo mais fino. 
  • Nas mulheres pode ocorrer alterações menstruais, atraso menstrual, infertilidade.
  • Nos homens pode haver aumento das mamas(ginecomastia), redução da libido e dificuldades de ereção, alterações no número e qualidade dos espermatozoides.
  • Aumento da glicose e do risco de osteoporose a longo prazo.
  • Falta de ar, diminuição da capacidade de realizar exercícios.
  • Aumento da coagulação sanguínea com risco de trombose.
  • Aumento da frequência urinária, inclusive à noite.
  • Nos pacientes idosos pode ocorrer apatia ao invés de hiperatividade, agitação ou tremores, constipação ao invés de muitas evacuações. Idosos apresentam muita perda de peso, falta de fôlego e arritmias. 
  • Também pode causar um inchaço do pescoço, o chamado bócio. O aumento da tireoide pode dificultar o ato de engolir. Se o hipertireoidismo for causado por doença de Graves, um problema auto imune, ele pode causar exoftalmia, ou seja, olhos projetados para fora, olhar fixo, olhos inchados, com retardo do fechamento palpebral, sensação de corpo estranho e desconforto nos olhos, visão dupla e inclusive comprometimento da visão, sendo mais comum em pacientes tabagistas. A doença de Graves também pode causar infiltração na pele, um edema na região das canelas (mixedema pré-tibial), com escurecimento da pele de coloração violácea no  local e pele com aparência de casca de laranja.

A maioria destes problemas se resolve com o tratamento do hipertireoidismo.
Sintomas do hipertireoidismo
Existe um exame para fazer o diagnóstico?

Sim, a dosagem no sangue dos hormônios da tireoide, o T3 e T4, e do TSH (hormônio estimulante da tireoide), que o médico solicitará em caso de suspeita. 

Existe tratamento para o hipertireoidismo?

Sim, e ele pode ser feito com comprimidos de uso oral diário, ou iodo radioativo em dose única ou múltiplas quando não resolver na primeira tentativa, ou cirurgia quando esta for mais indicada. Realizando o tratamento proposto você vai se sentir melhor e os sintomas do hipertireoidismo diminuirão gradualmente. 
Na dúvida, converse com seu médico e consulte um especialista. Jamais suspenda ou troque de marca ou para genérico, ou mude a dosagem de seus medicamentos sem falar com seu médico. A troca entre pílulas pode fazer os hormônios aumentarem ou diminuírem.

Dra. Aline Maria Swarowsky
Médica Endocrinologista
CREMERS 24.801
Consultório em Santa Cruz do Sul/RS Fone: (51)3056-3640