31 de maio de 2015

Novos antidiabéticos suspeitos de causar cetoacidose

Em meados de maio de 2015, o FDA, agência regulatória de medicamentos dos Estados Unidos, emitiu um alerta de que os medicamentos para tratar diabetes pertencentes a classe conhecida como inibidores do SGLT2, ou glifozinas, podem ser causa de cetoacidose diabética, uma complicação grave com necessidade de hospitalização. O alerta incluiu os inibidores de SGLT2 canaglifozina (Invokana), dapaglifozina (Forxiga) e empaglifozina (Jardiance), os dois últimos já disponíveis no mercado brasileiro.



Segundo o FDA, em um período de pouco mais de um ano, foram relatados 20 casos de cetoacidose diabética em pacientes com diabetes do tipo 2. Este tipo de complicação é pouco frequente no diabetes mellitus tipo 2. Além disso, os casos reportados tiveram apresentação atípica, com medidas de glicemia abaixo de 200 mg/dL. Nos pacientes com diabetes tipo 1, a cetoacidose costuma acontecer em níveis de glicemia acima de 250 mg/dL.
Entre os possíveis sintomas de cetoacidose diabética estão falta de ar, náusea, vômito, dor abdominal, confusão mental e fadiga e sonolência excessivas. Os profissionais da saúde, sejam endocrinologistas ou não, devem estar atentos para esta sintomatologia e suspender o uso do medicamento suspeito se a cetoacidose for confirmada. Conforme o FDA, os casos de cetoacidose possivelmente causados por glifozinas surgiram entre 1 e 175 dias após o início do uso da medicação, e, em metade dos casos, não houve fator precipitante como infecções ou desidratação.
Em resumo, médicos e pacientes devem estar atentos para cetoacidose diabética como possível complicação do tratamento com inibidores do SGLT2, para evitar desfechos mais graves. Também é recomendado que casos suspeitos sejam devidamente notificados às autoridades competentes (no Brasil, a ANVISA).
Fonte: Medscape

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

28 de maio de 2015

A glândula tireoide e o controle das emoções

A glândula tireoide, localizada na parte anterior do pescoço, faz parte da regulação de importantes funções do nosso organismo e produz os hormônios T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina). Ela atua no metabolismo celular, auxilia no controle do crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes, no peso, na memória, na regulação dos ciclos menstruais, na fertilidade, na concentração, no humor e no controle emocional.



Quando ocorre o hipotireoidismo, ou seja, a tireoide produz hormônios insuficientes para regular as funções do organismo, pode ocorrer desânimo, fraqueza, depressão, sonolência associada à fadiga, lentificação da voz (que fica rouca) e dos movimentos. Além disso, pelo metabolismo corporal estar diminuído, acontece intolerância ao frio, ganho de peso apesar do apetite estar normal, pele e cabelos secos, o coração passa a bater mais devagar e, no caso das crianças e adolescentes, o crescimento pode ficar prejudicado. Ainda, está associado a dores musculares e articulares, aumento dos níveis de colesterol no sangue, ciclos menstruais irregulares e infertilidade.
A maioria dos pacientes com hipotireoidismo apresenta um quadro depressivo, mas o tratamento com antidepressivos não é eficaz enquanto o hipotireoidismo não for corrigido. Alguns autores acreditam que o hipotireoidismo estaria presente em 8 a 17 % das pessoas deprimidas. Assim, nos casos de má resposta da depressão a um tratamento antidepressivo, é necessário realizar um exame do funcionamento da tireoide. 
No caso do hipertireoidismo, que é a produção de hormônios tireoidianos em excesso, ocorre o aumento do metabolismo e, normalmente, acontece insônia associada a cansaço extremo, perda de peso, a pessoa pode apresentar agitação psicomotora, incapacidade de concentração, nervosismo, dificuldade em controlar emoções e agressividade, suor excessivo, intolerância ao calor, alteração do ciclo menstrual e aumento da atividade intestinal.
Nesse caso há também um quadro depressivo, entretanto, aqui a depressão costuma ser do tipo agitado, com alto grau de ansiedade. Alguns transtornos psicóticos, sobretudo confusão mental e delírios, podem se manifestar em casos de fortes crises agudas ou de fases muito avançadas de hipertireoidismo. Nos idosos, a apatia é frequente, havendo instabilidade do humor, ansiedade e, menos frequentemente, um quadro de melancolia.
Essas disfunções na tireoide podem ocorrer em qualquer sexo ou idade, sendo mais frequente entre as mulheres: cerca de 10% naquelas acima de 40 anos e em torno de 20% das que têm acima de 60 anos. É preciso estar atento, pois, às vezes, essas alterações podem simular doenças psiquiátricas como agitação intensa ou depressão. Por isso, é importante fazer o diagnóstico correto e a diferenciação entre as patologias para, então, iniciar o tratamento correto o mais breve possível.

Texto desenvolvido como atividade da Liga Acadêmica de Endocrinologia e Diabetes (LAED-UFSM)

Fontes:
Ballone GJ, Tireoide e Emoções, in. PsiqWeb, Internet, disponível em psiqweb.med.br, revisto em 2007.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, disponível em endocrino.org.br/tireoide.

Paula Thais Birk
Acadêmica do Curso de Medicina/UFSM

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

24 de maio de 2015

Fazendo uso correto da levotiroxina (hormônio tireoidiano)

O paciente que faz tratamento com levotiroxina, o hormônio tireoidiano, deve atentar para alguns detalhes importantes. O objetivo das recomendações a seguir é facilitar o ajuste da dose, assim como mantê-la estável.

Recomendação 1.

Tome a levotiroxina de estômago vazio, na primeira hora da manhã, idealmente 1 hora antes do café. Os alimentos interferem na absorção deste medicamento.



Recomendação 2.

Evite trocar a marca do medicamento. A levotiroxina é um fármaco com margem terapêutica estreita, isto é, pequenas alterações na dose, ou a simples troca de marca, são capazes de desregular a reposição hormonal. Apesar das mesmas doses serem consideram equivalentes, sabe-se que existem diferenças na maneira como cada pessoa absorve cada marca de comprimido.

Recomendação 3.

Avise seu médico sobre o uso de outros medicamentos. Alguns medicamentos de uso corrente podem interferir na função tireoidiana e fazer com que a dose de levotiroxina precise ser ajustada.
São medicamentos que podem exigir aumento da dose da levotiroxina: lítio, amiodarona, xaropes para tosse, carbonato de cálcio, sulfato ferroso, omeprazol entre outros.
São medicamentos que podem exigir diminuição da dose da levotiroxina: amiodarona, medicamentos contendo iodo ou que interfiram na imunidade.

Recomendação 4.

Caso esqueça de tomar a levotiroxina. Tome a dose dobrada no dia seguinte. Faça disso a exceção e não a regra. A tomada diária, de maneira correta, é importante para se manter os níveis hormonais estáveis.

Siga corretamente as recomendações acima e visite regularmente seu endocrinologista.


Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

22 de maio de 2015

Transtornos alimentares: o sucesso do tratamento depende do trabalho em equipe

O que são os transtornos alimentares?

São distúrbios na percepção corporal e no comportamento alimentar que resultam em alterações físicas e psicológicas. São mais comuns em mulheres jovens e podem gerar consequências graves à saúde como insuficiência renal e doenças cardíacas. Podem ainda associar-se a outros transtornos psiquiátricos, que devem ser tratados concomitantemente, como a ansiedade, a depressão e os transtornos da personalidade.

Qual a causa dos transtornos alimentares?

Fatores biológicos, entre eles a própria genética, psicológicos, como as características da personalidade do indivíduo e socioculturais, como a influência da mídia que exalta o ideal de beleza magro.



Quais são os transtornos alimentares?

A anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar periódica.
O nome anorexia nervosa pode parecer enganoso, pois dá a entender que o problema central seja a falta de apetite. Na realidade, na anorexia nervosa, existe uma busca frenética por magreza associada a um medo catastrófico de engordar. Um limite de menos de 85% do peso mínimo normal para a idade e altura é utilizado com frequência no momento do diagnóstico. A amenorréia ou ausência de ciclos menstruais é característica importante do transtorno em mulheres, que respondem por 90-95% dos casos de anorexia nervosa.
Os pacientes com bulimia nervosa geralmente se diferenciam dos anoréxicos pelo seu peso relativamente normal, pela presença do comer compulsivo e descontrolado (grandes quantidades em pouco tempo) e pelo uso de medidas compensatórias, como laxativos, diuréticos, jejum e exercícios físicos, que visam evitar o aumento do peso.  Têm uma avaliação de si próprios exageradamente influenciada pela forma e o peso e costumam ocultar seus problemas e práticas compensatórias por muito tempo antes de procurarem ajuda.
O transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP)  é parecido com a bulimia nervosa, a diferença é que as pessoas não provocam a eliminação forçada das calorias. A pessoa come até sentir-se repleta, come geralmente sozinha, com embaraço, sem fome, sentindo-se culpada ou deprimida após os episódios de hiperalimentação. Até 30% dos pacientes obesos que procuram tratamento para perda de peso sofrem de TCAP.

Os transtornos alimentares podem levar uma pessoa à morte?

Sim. A anorexia nervosa apresenta a maior taxa de mortalidade entre todos os transtornos psiquiátricos. A mortalidade associada à anorexia nervosa é 12 vezes maior que a observada em mulheres jovens na população geral e decorre, na maior parte das vezes, das complicações cardiovasculares, insuficiência renal e suicídio.

Existe tratamento para os transtornos alimentares?

Sim. O tratamento é multidisciplinar, envolvendo várias abordagens como o acompanhamento psiquiátrico, psicológico, endocrinológico e nutricional e, em casos mais graves, internação hospitalar.

Dr. Régis Franciozi
Psiquiatra
CREMERS 30.577
Santa Maria/RS

17 de maio de 2015

Medo de insulina

Quem nunca ouviu na sua infância a ameaça: “Olha que eu vou te levar no médico, e ele vai te dar uma injeção!”? Ou a história: “... e ele começou a usar insulina e teve que amputar a perna...”? Ou, menos frequentemente, vivenciou a rotina de um familiar que se escondia com suas agulhas e seringas, e que um dia sucumbiu à morte, após anos de hemodiálise?
Não podemos negar que agulhas, injeções e insulina estão emocionalmente associadas à punição, sofrimento e morte.  E que, há pouco tempo, coexistiam frequentemente.



Por isso, não é surpresa quando uma pessoa com diabetes declara: “Não quero usar insulina de jeito nenhum!”. Quando tentamos entender esta afirmação, logo encontramos vários aspectos.
Primeiro, para aceitar que temos uma doença, precisamos perceber a nossa vulnerabilidade e encarar que um dia iremos morrer. O remédio que tomamos pode ser visto como uma lembrança diária disto. Imaginar uma aplicação diária de insulina, então, pode ser algo insustentável para alguns.
Segundo, até algumas décadas atrás, as campanhas de detecção e tratamento precoce do diabetes eram menos difundidas. Muito frequentemente, as pessoas passavam de 10 a 20 anos com a doença não diagnosticada, e quando a descobriam, já apresentavam perda de visão ou precisavam de hemodiálise, por causa do longo tempo de hiperglicemia não tratada. Além disso, a sua reserva de produção de insulina também se esgotava por falta de tratamento, e o paciente precisava receber insulina. Assim, uma pessoa aparentemente saudável era vista no mesmo período de sua vida iniciando o uso de insulina e amputando uma perna, por exemplo. O entendimento popular destes acontecimentos era: “A pessoa ficou doente por causa da insulina”.
Terceiro, agulhas que provocavam dor na aplicação, aspiração da insulina de dentro de frascos, doses que precisavam ser colocadas em seringas com numerações diferentes...  Por décadas, a aplicação de insulina era realmente desconfortável e complexa. 
Assim, chegamos aos dias de hoje. Em geral, o diagnóstico é mais precoce, e podemos fazer um bom tratamento para manter a glicemia controlada. As pessoas com diabetes vivem mais e melhor, já que a maior parte das complicações é evitada. Entretanto, em algum momento, pode ser necessário usar insulina, justamente para manter a qualidade de vida e evitar complicações. 
Atualmente, temos disponíveis práticas canetas aplicadoras de insulina e agulhas tão finas que tornam a picada quase imperceptível. Os pacientes não adoecem ao usar insulina. Pelo contrário, se ela for iniciada no momento correto, permite garantir a sua saúde. 
O aumento da longevidade com boa qualidade de vida é uma realidade para as pessoas com diabetes. Entretanto, medos e preconceitos surgem quando é necessário utilizar insulina. Entender que algumas crenças podem estar equivocadas e assumir com maturidade seus cuidados pela saúde pode ampliar ainda mais estes benefícios.

Dra. Simone Peccin
Médica Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia (UFRGS)
CREMERS 18941
Consultório em Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3346 2441

13 de maio de 2015

Cistos de tireoide: avaliação e tratamento

Cistos ou nódulos císticos de tireoide são lesões parcial ou completamente preenchidas por fluido. São muito frequentes, podendo corresponder à metade dos nódulos tireoidianos. A maioria é assintomática e descoberta ao acaso, mas sintomas como dor ou sensação de aperto no pescoço podem ocorrer dependendo do tamanho da lesão.
De acordo com as células que os constituem, os nódulos císticos podem ser benignos (adenoma) ou malignos (carcinoma, isto é, câncer de tireoide). Felizmente, a grande maioria destas lesões é benigna. Estima-se que apenas 2 de cada 100 nódulos císticos sejam malignos. Além disso, as lesões com um componente cístico maior, isto é, com mais fluido do que células, têm um risco menor de serem malignas.

Ecografia de tireoide

Na avaliação dos nódulos císticos de tireoide são fundamentais: a história clínica do paciente, a dosagem do TSH, a ecografia e a punção aspirativa com agulha fina (PAAF). Cistos simples não precisam ser puncionados, pois são virtualmente sempre benignos. Nódulos císticos com componente sólido devem ser puncionados quando maiores que 1,5-2 centímetros de diâmetro, dependendo de suas características à ecografia, para afastar o diagnóstico de câncer.
O tratamento dos nódulos císticos de tireoide depende do resultado da PAAF. Lesões malignas devem ser retiradas através de cirurgia. Lesões benignas podem ter seu conteúdo líquido aspirado, serem operadas ou simplesmente observadas. Existe ainda a possibilidade de injeção de álcool dentro do cisto após a aspiração do fluido. Contudo, os estudos que avaliaram essa modalidade terapêutica são pequenos, mostraram uma taxa considerável de dor grave a moderada (20%) e acompanharam os pacientes por apenas 6-12 meses, logo, faltam de dados de eficácia em longo prazo.
Se você tem qualquer lesão na tireoide, seja ela cística ou não, procure um endocrinologista para avaliação diagnóstica e terapêutica.

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576